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Subject: "uma teoria ... pode estar correcta ou não"


Author:
paulo fidalgo
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Date Posted: 18:04:25 08/15/02 Thu
In reply to: Gonçalo Valverde 's message, "Digitalismo e multiplas realidades" on 10:13:01 08/15/02 Thu

1 - a existência de lugares do universo onde não se aplicam as leis da termodinâmica não significa que estas estejam erradas e não significa que a realidade - a verdade - não seja progressivamente conhecível e que novas teorias no futuro expliquem melhor as observações do que as actuais. Se a correcção - o carácter verdadeiro ou falso - de uma teoria, for medido pelo critério da prática, da possibilidade de fazer previsões acertadas e dar intiligibidade e coerência às observações, isso significa que ela está certa relativamente ao nível de conhecimento em que, num dado momento, nos situamos. Com esta lenga lenga só estou de certa forma a querer chamar à atenção de que esta discussão já foi tida há muitos anos no movimento operário, por exemplo no luta contra os empirocriticistas por Lenine e, na altura em que li isso, achei os argumentos então produzidos bem claros. Não sou profissional desta questão da teoria do conhecimento, mas pareceu-me haver na tua argumentação uma acomodação a um relativismo que recusa no fim de contas a possibilidade de irmos conhecendo a realidade.

2- Acho - a expressão "acho" é dramática porque traduz o marasmo em que o marxismo anda em Portugal, em que nada se faz para conhecer a composição social do país, das suas características, formações económicas etc - que a evolução do trabalho vai no sentido de uma cada vez maior socialização, multidisciplinaridade (o que induz e promove também a hiperespecialização) e trabalho em rede. Se pensarmos quantas empresas com mais de mil trabalhadores existem agora em Portugal por comparação com 1974, acho que aumentaram muito. A indústria mais socializada em Portugal, eu acho - lá estou com os feelings - é a da saúde. Estamos com mais de 100 hospitais na rede do SNS e quase todos eles têm mais de 1000 trabalhadores e para aí 20 deles têm mais de 3000. Santa Maria, S. João, HUC devem ultrapassar os 5000 à vontade. Ora, a realidade da saúde em 74 era muitíssimo mais incipiente. Podes dizer que a saúde é uma excepção, mas posso evocar os grandes espaços dos serviços, as superfícies comerciais, etc. Eu afirmo, como tese (não demonstrada) que a socialização da produção está em grande expansão, inclusive no centro capitalista desenvolvido - América do Norte, Australasia, Europa.

3 - o que eu posso aceitar com facilidade do teu temor da individualização, ou do aparecimento dos fenómenos de "individualismo" no movimento dos trabalhadores, não é tanto os individualismos, mas a crescente diversidade de visões, interesses e prespectivas que a própria desigualdade induzida pela complexa divisão do trabalho e da diferenciação da mão de obra estão a provocar no camp+o assalariado. É de facto cada vez mais complicado pôr de acordo por exemplo médicos, com os 500 professores da faculdade de letras de Lisboa. Pôr de acordo os enfermeiros (35000 no país) com os não sei quantos mil trabalhadores da auto-europa. Á medida que se profunda a divisão de trabalho e e diferenciação, aumenta a diversidade de posições, de visões, e surge portanto uma irreprimível tendência para o pluralismo socialista. Não para eternizar as diferenças, mas para, através das suas múltiplas tensões, ensaiar a sua superação. Meszaros (Istvan) diz e eu concordo com ele que a unidade da classe operária foi um desígnio muito exagerado pelo movimento operário. Cita inclusive Engels quando este, a propósito de um aniversário da "crítica do programa de Gotha" de Marx, referiu que os problemas do processo de unificação da socialdemocracia marxista alemã com os lassaleanos, no Congresso de Gotha, advinham muito da preocupação de Willelm Leibknicht - o líder do partido marxsista - com a "tradição burguesa" da unidade. No fundo está a substituir-se a necessária convergência e concertação com a traficância nos princípios, no sentido de consagrar a todo o custo uma unificação formal, sem verdadeiramente superar e resolver as diferenças. Quem pelo contrário tem crescente incomodidade com o pluralismo, é o capital que por ser cada vez mais monopolista, tem de ensair a todo o custo o mito da unidade formal, que na prática impõe a solução do mais forte e abafa a pulsão da diversidade na base.

4- para resumir, o problema marxista maior e das suas forças políticas organizadas, não é tanto o temor da individualização, mas aprender a lidar com uma situação de cada vez maior pluralismo socialista. Este é a meu ver um dos cernes da crise do PCP. A sua incapacidade (da direcção) em compreender que a "unidade de ferro" está tornar-se incapaz de de agregar e fazer convergir o cada vez mais vasto e diverso universo dos assalariados. A luta de opiniões que eclodiu no PCP pode ser vista, não como uma infecção viral do individualismo que recusa a obdiência a uma linha política de "unidade proletária", mas como a recusa de cada vez mais diversos sectores assalariados em delegar a sua representação em algo que nãoo consegue representá-los adequadamente. Para mim, o PCP deixou de conseguir representar adequadamente os interesses dos trabalhadores da saúde. É por isso que eu ando à pancada com o PCP. Para recuperar e desenvolver um nível adequado de representação dos meus interesses e dos meus colegas. Se entregássemos a representação dos nossos interesses ao actual PCP, estávamos tramados. Num instante a direita esquartejava o SNS. Poderá fazê-lo mesmo que nós consigamos um nível mais efectivo de acção política, mas certamente que terá mais dificuldade se nós, como os nossos pontos de vista e interesses bem analisados (e que naturalmente outros sectores de aasalariados e de dirigentes podem até não compreender, ou não compreender imediatamente), terá mais dificuldade se nós, com a nossa estratégia, ancorada na nossa capacidade de acumular força, dermos à direita o cambate pertinente nesta situação.

5 - com a história dos artesãos eu só quis dizer e peço desculpa de não conseguir ser mais claro, é que o artesão - por exemplo o médico isolado no seu consultório particular - tem uma característica relação de produção radicalmente diferente do operário assalariado ou, neste caso, do médico assalariado: o artesão é dono do produto do seu trabalho que vende a troco de um dado valor. O assalariado pelo contrário vende a sua força de trabalho ao patrão e o produto do seu trabalho é-lhe arrancado para ficar sob o controlo do detentor de capital. Ora, a convivência, na mesma sociedade, de artesãos e de assalariados - e ás vezes ou tantas vezes a acumulação de ambos os estatutos no mesmo trabalhador - não resulta necessariamente num recuo da consciência socialista, por contaminação de pontos de vista pequeno burgueses e semi-proletários, como era talvez habitual considerar-se na análise leninista clássica - mas pode redundar no inverso: no aumento da consciência socialista. E porquê? Porque o artesão faz ver ao assalariado como é injusto que ele, artesão, controle a riqueza que produz, enquanto que o assalariado a tem de entregar ao capitalista ou a quem controla o capital. AAa existência de "atenienses livres", segundo Ellen Myksens Wood, pode ser um perigoso exemplo para os eclavagistas da república de Atenas pois os escravos tinham naturalmente por ambição tornar-se atenienses livres. Os artesãos podem iluminar aos assalariados que o caminho a seguir é também o de lutarem pelo controlo da riqueza que produzem, só que não através da impossível visão de uma economia idílica artesanal, mas da avançada e socialista economia dos produtores organizados

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Subject Author Date
A realidade existe e é passivel de ser conhecidaGonçalo Valverde09:02:46 08/16/02 Fri


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