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Subject: Meia dúzia de singelas perguntas ao Justo...


Author:
Martinho Lucas
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Date Posted: 22:48:15 07/23/02 Tue
In reply to: Cipriano Justo 's message, "Certezas políticas, vícios partidários" on 13:46:42 07/23/02 Tue

Meia dúzia de singelas perguntas ao Justo...

1ª - Quem são os dirigentes comunistas autores da “teoria dos factores externos para explicar os seus fracassos de há dez anos a esta parte”?

2ª - Onde está publicada a tal dita “teoria dos factores externos”?

3ª - Quem são os “analistas oficiais” que se esconderam atrás dos resultados eleitorais do PCF, para branquear erros e derrotas dos dirigentes do PCP?

4º - Onde e quando foram publicadas essas análises desses “analistas oficiais”?

5º - Quando é que o Justo & Amigos abre o tal “partido mais de revolucionários do que de funcionários”?

5º - Quando é que a vitória foi certa?





>Se quisesse resumir numa expressão simples e
>facilmente captável por toda agente o que hoje
>distingue os comunistas entre si, diria que para uns,
>a luta continua porque a vitória é certa, e para
>outros, a luta continua porque a vitória é incerta. É,
>em minha opinião, na dicotomia certeza/incerteza que,
>em Portugal, se deve procurar o essencial e a raiz das
>contradições que actualmente se verificam. Foi a
>progressiva tomada de consciência da tensão contida
>na incerteza da vitória final, que criou as condições
>subjectivas para a instalação e o desenvolvimento da
>divergência, relativamente à inevitabilidade da
>vitória do campo comunista e ao modo como a alcançar.
>Tudo o resto é mais uma consequência destas duas
>concepções de organizar o partido e dirigir a luta do
>que a sua causa.
>
>Quando, em tese, a vitória é dada como certa, a luta
>política constitui-se como um acto litúrgico centrado
>na organização partidária, enquanto super-estrutura
>que sabe, comanda e dirige as operações de
>transferência da velha sociedade capitalista para a
>nova sociedade comunista. Uma espécie de mudança de
>instalações, em que o partido desempenharia o papel de
>transportadora que conhece antecipadamente o ponto de
>partida, o trajecto a percorrer e o ponto de chegada.
>Nesta perspectiva, a organização partidária
>desenvolve-se no sentido de um dispositivo não
>dialéctico, auto-programável, estatutariamente
>consolidada, funcionando segundo regras historicamente
>determinadas, em que impera o sistema de valores
>assente na obediência disciplinada a uma direcção, a
>gestão atrabiliária dos factos e dos acontecimentos, e
>a ocultação da informação como fenómeno de dominação e
>de poder. Esta é uma visão da ideologia que tem como
>corolário a ideia da superação do capitalismo, não
>pela via da luta de classes, mas pela via da
>reengenharia da humanidade. Um género de lego social
>em que a única incerteza retórica admissível seria o
>intervalo que separa “um passo à frente” de “dois
>passos atrás”.
>
>A confiança ilimitada e salvífica no determinismo
>histórico e a leitura dogmática e unilateral que faz
>dele, levou a direcção do partido dos comunistas
>portugueses a derivar por um tipo de gestão corrente
>da actividade partidária e da intervenção política,
>oscilando entre uma visão contabilística da
>participação na vida parlamentar e a necessidade de
>demonstração anual de prova de vida através de umas
>quantas manifestações antecipadamente agendadas e
>programadas para o ano todo. Não se dando conta que,
>em política, a certeza é geradora de todos os vícios
>partidários, o principal dos quais é a preguiça
>ideológica.
>
>É por isso que não se deve confundir certeza com
>competência e capacidade para fazer as coisas certas.
>Isso só é tendencialmente verdade se se estiver apto a
>dominar e a gerir os mecanismos que melhor combinam a
>teoria, a evidência dos factos, a conjuntura e os
>objectivos. Não é isso, porém, o que actualmente se
>passa com a direcção do PCP. Quanto à teoria, está
>definitiva e messianicamente armazenada nas obras
>completas dos clássicos; os objectivos, são alvos
>móveis em que raramente consegue acertar; a
>conjuntura, é vista como uma carga de trabalhos de que
>se devia poder prescindir; a evidência, ou se cola à
>grelha de análise dos dirigentes ou é rasurada da
>realidade partidária. Nesta mistura de certezas não
>sobra, naturalmente, qualquer espaço para o
>contraditório.
>
>A teoria dos factores externos desenvolvida pelos
>dirigentes comunistas para explicar os seus fracassos
>de há dez anos a esta parte, é disso o melhor exemplo.
>Mas tão grave como esta explicação, e tão contrária à
>melhor tradição dos comunistas é, por exemplo, os
>dirigentes do PCP, por intermédios dos seus analistas
>oficiais, esconderem-se atrás dos resultados
>eleitorais do PCF, nas presidenciais e legislativas,
>para branquear os seus próprios erros e derrotas. Essa
>é a face da certeza já em adiantado estado de
>empedernimento.
>
>A introdução da incerteza na luta política dos
>comunistas tem vários efeitos. O principal é
>considerar que o comunismo é mais uma caminhada da
>humanidade no sentido da superação do modo e das
>relações de produção capitalista, do que um ponto de
>chegada, cuja antecâmara conhecida era o sistema
>existente nos países do bloco soviético. Se tomarmos
>esta premissa como hipótese de trabalho, a incerteza
>colocada na vitória do comunismo torna imperativa e
>inadiável a necessidade de a cada processo a
>desenvolver nessa caminhada e ao conjunto de processos
>no seu todo, corresponderem outras tantas metas pelas
>quais se tem de lutar, para atingir os resultados
>desejados.
>
>Não chega aos comunistas manterem-se no papel de
>espectadores da agudização das contradições no seio do
>capitalismo, encostados à soleira do que há-de chegar.
> É-lhes exigido que intervenham activa e
>assertivamente no sentido de irem conquistando
>posições e consolidando formações não capitalistas no
>seio da própria sociedade capitalista. O exemplo que
>melhor ilustra a incompreensão da direcção do PCP pela
>necessidade de uma reorientação estratégica deste tipo
>foi a maneira como geriu politicamente o processo da
>reforma do Serviço Nacional de Saúde, que ficou
>conhecido por SNS21. Apesar do seu indesmentido
>sentido progressista, os dirigentes comunistas o mais
>longe que conseguiram ir foi oscilar entre a
>indiferença e a oposição a este projecto, porque ele
>tinha a marca e a assinatura de um governo do partido
>socialista.
>
>Trabalhar sobre a incerteza obriga, por outro lado, a
>considerar que a base social de apoio a este tipo de
>estratégia política, e o correlativo sistema de
>alianças, deva ser obrigatoriamente ampla,
>diversificada, porventura recheada de elementos
>contraditórios, mas que pode ser plenamente conseguida
>se, em vez de se tomar o marxismo e o leninismo como
>um criptograma, se considerar, na expressão de Umberto
>Eco, como obras abertas interpretáveis e orientadoras
>da visão política do que se pode ir configurando como
>uma sociedade comunista. Como não é isto que se está a
>verificar no PCP, assiste-se a uma espécie de greve
>dos acontecimentos, como já Jean Braudillard designou
>o afundamento do bloco soviético.
>
>A tentativa e erro, o principal e mais experimentado
>suporte metodológico de toda a aprendizagem, política
>nomeadamente, está no centro da aproximação da vitória
>do comunismo pela via da incerteza. Não para se
>persistir no erro mas para centrar a intervenção
>política na tentativa, com a consciência de que o erro
>é uma das contingências que se pode verificar. Que
>pode ser tão importante como o sucesso, desde que se
>esteja apto e preparado para proceder às respectivas
>correcções. É neste aspecto que a questão da
>organização partidária assume tanto relevo e é tão
>importante. Numa lógica em que a incerteza dos
>resultados da acção política é geradora de uma forte e
>contraditória tensão partidária, o risco da incerteza
>se converter numa vitória irreversível da certeza só
>tem lugar na condição de a rotina, a preguiça, o
>raquitismo teórico e a repressão interna serem eleitos
>como os principais valores partidários. É para
>prevenir estes riscos que advogo um partido mais de
>revolucionários do que de funcionários. Pela simples
>razão de que a vitória não é certa.

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Algumas respostasGonçalo Valverde13:39:09 07/24/02 Wed
Tanta ingenuidade também cansaJorge Nascimento Fernandes00:45:03 07/25/02 Thu


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