Subject: Re: a posição do CHE |
Author:
Luis Blanch
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Date Posted: 10:05:13 10/22/03 Wed
In reply to:
paulo fidalgo
's message, "a posição do CHE e a questão do uso do capital como força motriz!" on 11:09:54 10/21/03 Tue
Caro paulo fidalgo. Muita gente se pode interrogar pelo interesse que hoje possa ter os escritos,pouco divulgados, de Che Guevara. Muitas das ideias e percepções que ele tinha ,nos anos sessenta,sobre o desenvolvimento dos acontecimentos mundiais ,cumpriram-se e desenvolvem-se hoje em dia.
Existem boas razões para nos interessarmos pela sua obra ,pelo seu pensamento. Ele não está associado à experiência da transição socialista que foi um fracasso no Leste e na URSS ,e pelo contrário foi também em meados dos anos sessenta crítico da própria Revolução cubana ,não se vinculando também às práticas viciadas do esquerdismo. Não é, não foi co-responsável pelos erros cometidos pela Revolução cubana na sua interpretação idealista em fins de sessenta, nem muito menos responsável pelo mimetismo do modelo soviético nas décadas de setenta e oitenta...
Che vaticinou o fracasso do modelo soviético, o seu distanciamento crescente do ideal socialista e a sua caminhada progressiva para a criação de um modelo híbrido do capitalismo. Ele fez uma extensa análise do marxismo nos seus planos filosófico e económico,deslindando a teia em que se envolvia a casta burocrática soviética, submetendo-a a uma cr´tica em que salientou as suas insuficiências e erros,o seu carácter dogmático , esquemático ,deshumanizante e divorciada do que considerava os principios do socialismo e do comunismo.
Talvez porque foi muito frontal,desde muito cedo,os escritos e as suas análises económicas são tão ignorados . DO CHE fica ,para a maioria, o folclore das t-shirts.
>1 - o capitalismo de estado, entendido como modo de
>produção onde a extracção de mais valia se faz por
>intermédio do estado, mantendo a servidão assalariada,
>tem virtudes desenvolvimentistas, mas visivelmente
>falha a partir de certo nível de sofisticação. Esse
>nível para mim é atingido mais depressa nuns ramos do
>que noutros, mas essencialmente caracteriza-se pela
>exigência de uma mão de obra muito qualificada e altos
>níveis de investimento.
>
>2 - a mão de obra muito qualificada percebe com maior
>nitidez o nível de alienação do sobreproduto a que
>está sujeita no capitalismo (de estado ou privado) e
>neles a alienção tem ainda efeitos mais devastadores
>no comportamento produtivo. Não só produzem mal como
>não se interessam em colocar o seu formidável
>conhecimento ao serviço da reorganização das
>indústrias onde trabalham. Essa percepção é ainda
>potenciada se a mão de obra altamente qualificada
>convive com pessoas da mesma habilitação que trabalham
>por conta própria, em partime ou fulltime, e que
>portanto controlam o sobreproduto a seu belo prazer.
>Ao notar as diferenças, o efeito da alienação do
>trabalho ainda é maior.
>
>3 - julgo queas dificuldades cubanas estão neste
>conjunto de problemas
>
>4 - Che teve de facto um choque muito grande com as
>orientações do PCUS quando era ministro da economia.
>Ele mostrou ser um sujeito cuidadoso (ao contrário de
>uma certa prosápia que o arrumava como esquerdista) e
>preparou-se a fundo para a discussão, da qual nasceu
>os escreitos de economia. Os pontos de vista dele não
>vingaram e ele saiu de ministro. Eu, se bem que esteja
>em descordo com o que ele defendia, reconheço que ele
>fundamentou " a fundo" o que defendeu.
>
>5 - o problema estava na questão dos estímulos
>materiais. Os URSSos defendiam que uma economia só
>resolve os problemas de comportamento produtivo se
>praticar uma política de estímulos. De notar que nada
>admite pensar que o PCUS nesta questão dos estímulos
>tinha outra visão senão o uso de variantes do salário
>e de modo algum o fim da forma salário. No fundo, o
>PCUS admitia que à semelhança das empresas
>capitalistas se contratasse com modalidades de salário
>indexado à peça ou outros prémios. Num ponto de vista
>marxista, muitos destes expedientes estão consagrados
>nass relações de produção assalariadas e forma
>extensamente analisadas no Capital de Marx, como sendo
>variantes de salário.
>
>6 - Che defendia pelo contrário que a introdução dos
>estímulos era um retrocesso na revolução pois repunha
>a competição intertrabalhadores e o seu individualismo
>eportanto fazia recuar os trabalhadores do nível
>alcançado na revolução e que se caracterizava pelo
>desprendimento em relação ao sobreproduto. Se o culto
>por via da acção ideológica do desprendimento tinha
>dado frutos, seria um retrocesso grave voltar-se aos
>estímulos materiais. Seria o início da derrota da
>revolução. Para che a consciÊncia socialista tinha
>dado passos tais que se considerava já er acontecido a
>vitória da mentalidade desprendida contra a
>apropriadora pessoal. Eu não posso de modo algum
>concordar com isto e considero isto altamente
>voluntarista. Embora cheio de generosidade.
>
>7 - É claro que as duas partes têm alguma razão. Por
>um lado, numa economia baseada no valor de troca e
>tendo apenas construído uma personificação de capital
>sob a égide do Estado, o comportamento é profundamente
>influenciado pelos estímulos e direi mais, isso não
>pode nunca ser ignorado. COntudo, o objectivo dos
>comunistas, podendo socorrer-se deste tipo de
>modalidades em fases históricas mais ou menos
>prolongadas, devem ter a consciÊncia que há que
>estimular ao máximo formas de economia cooperadora,
>onde oas pessoas não se socializem pela troca de
>produtos segundo o valor de troca, mas segundo uma
>troca de actividades e funções socialmente relevantes.
>Onde portanto, o capital e o valor de troca deixem de
>ser forças motrizes (estou a citar livremente bocas do
>Marx nos Grundrisse).
>
>8 - o problema em Cuba, um exemplo clássico de
>capitalismo de estado, é conseguir equacionar por
>dentro e sem resistências do tipo daquelas que
>aconteceram na perestroika, uma transformação das
>relações de produção que iniciem a reconfiguração em
>sentido socialista as relações de produção. Para
>desencadear respostas produtivas máximas, é desde logo
>por em cima da mesa um novo tipo de remuneraçáo que
>acabe com o salário. O que implica reaporpriação, pelo
>menos parcial do sobreproduto, controlado pelos
>trabalhadores. O que significa por o Estado de fora do
>processo. É certo que a reapropriação continua a girar
>propulsionada pelo valor de troca e pelo capital, mas
>fa-lo-ia com control laboral e sem a mediação política
>e estatal do capitalismo de Estado.
>
>9 - eu não vejo, para o capitalismo de Estado cubano,
>ou portuguÊs ou sueco, outra saída que não neste
>sentido. Se tiverem melhor ideia digam.
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