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Subject: Quem diz adeus? Essa é boa!


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Visitante ocasional
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Date Posted: 24/05/05 23:21:34
In reply to: paulo fidalgo 's message, "Quem é que diz adeus? os Berlinenses ou Lenine?" on 22/05/05 16:52:25

O meu obrigado a quem repôs o tema em discussão.
Enquanto objecto fílmico, este é um filme menor (pelos meios e pela opções estéticas da realização), mas com desempenhos escorreitos. Não deixa de ser interessante, porém, que um tal filme tenha alcançado na Europa tão grande êxito de bilheteira. Talvez porque a história que lhe subjaz diga alguma coisa a muitos europeus (que não apenas aos alemães).
O filme é uma história simples dos pequenos dramas de uma família (de certo modo, pertencente a uma certa elite de trabalhadores altamente qualificados, com datcha e tudo), que poderia ser similar a tantas outras dramáticas histórias reais, polvilhada de algumas histórias de amor e de dedicação.
Não pode deixar de se reconhecer, também, que é uma história bem contada, apesar das limitações já apontadas. A partitura musical, igualmente simples, adequa-se bem à criação do clima social e humano que o filme pretende descrever. Não sendo uma ideia original, a sequência do transporte de helicóptero da estátua de Lenin – que acaba por dar o nome ao filme – está bem conseguida, e a música que a acompanha acentua o elevado simbolismo que as imagens pretendem transmitir-nos.
Para além da recriação de um país imaginável, sonhado e desejado por alguns dos protagonistas, cuja caricatura pode ter agradado a muitos espectadores mais jovens, julgo ter sido na minha geração, e entre os engajados, que o filme teve maior impacto e constituiu motivo de reflexão. Porque ele veio reavivar, quinze anos depois, o que fôramos sabendo até à queda do muro de Berlim: que o socialismo e o comunismo em que acreditáramos era uma tremenda ilusão, produto duma poderosa mentira que nos fora vendida como verdade inquestionável.
Quase tudo no comunismo era mentira – da vanguarda do desenvolvimento económico e social à abundância material e às amplas liberdades – e o que o filme nos rememora são os aspectos quotidianos dessa mentira, reavivando-nos a tremenda desilusão que se apoderou de nós com o conhecimento da verdade. Era real o idealismo, a cooperação, a entre-ajuda, produto da vontade de transformação do ser humano e da construção de um Homem novo, mas esse idealismo construído pela força da vontade é frágil se não brota espontaneamente como manifestação das formas de produzir mais eficazmente e de organizar a vida social.
Na Alemanha de Leste, produto de um acto insensato de dividir uma nação por razões ideológicas, o comunismo estava ainda mais sujeito à confrontação com o capitalismo, de que distava um muro urbano e não uma longínqua fronteira campestre. Ultrapassando-o no desenvolvimento, o país irreal reconstruído para reconfortar a mãe moribunda, que era, afinal, o país por ela sonhado e, de criança, igualmente pelo protagonista, assim como por nós, engajados, tornar-se-ia realidade; escasso de frutos tropicais (para os quais não se desviavam preciosas divisas) e que só se alcançavam na outra Berlim, parco de diversidade (dos padrões de vestuário aos objectos mais banais de uso quotidiano), símbolo de poupança (por contraponto ao consumismo e ao desperdício capitalista), mas também de incapacidade em responder à diversidade de gostos e de preferências de cada um, o Estado comunista soçobraria à primeira fraqueza da repressão com que mantinha aprisionados os seus cidadãos. Berlim, e, por extensão, a Alemanha de Leste, era o elo mais fraco do comunismo, porque ao lado, do outro lado do muro, paredes-meias, viviam parentes, gentes falando a mesma língua, herdeiros das mesmas ancestrais raízes culturais, nacionais artificialmente separados, mas usufruindo de tudo o que seria suposto o comunismo proporcionar e que, afinal, era o diabolizado capitalismo que o fazia.
Para si, o filme "é uma parábola brilhante" e "a denúncia da construção de uma mistificação". Essa mistificação, porém, é aquilo que os "verdadeiros comunistas" chamam de "socialismo irreal", que os comunistas "mais ou menos anónimos" teriam deixado construir por não se empenharem no aprofundamento do projecto comunista. Suprema ironia, essa, de o socialismo real, o que de facto existiu, ser um “socialismo irreal”, eventualmente porque não condizia com o que os mais sagazes e experimentados intérpretes descortinam, agora, nos textos sagrados dos mestres! Poderosa é a fé, que mesmo perante as evidências pretende negar a realidade!
Em minha modesta opinião, e como deixei expresso, o filme não me parece nada disso, e as suas palavras poderão, até, constituir uma ofensa aos idealistas anónimos que se empenharam denodadamente na construção do comunismo (de que é exemplo a mãe de família centro da acção do filme, condecorada pelos seus serviços à causa).
Mas, respondendo à sua questão, está bem de ver que foram os berlinenses e os alemães de leste, e, com eles, muitos de nós, engajados, que disseram adeus a Lenin, o idealista voluntarista que imaginou que a realidade social se pode decretar e construir controlada ao pormenor, e ao que ele simbolizava: um regime de mentira, fundado no ódio classista de diabolização do capitalismo e de divinização do comunismo, comparável, no fundo, a outros totalitarismos fundados noutras diabolizações e divinizações.
Com tamanha fé, não me surpreende que almeje o regresso de Lenin, ou o regresso das ovelhas tresmalhadas ao rebanho, tal como os verdadeiros cristãos anseiam pela ressurreição do Cristo, seu Messias redentor.


>Para mim, «adeus lenine» é uma parábola brilhante
>acerca daquilo que agora os comunistas chamam o
>socialimos "irreal".
>
>É a denúncia da construção de uma mistificação onde os
>comunistas mais ou menos anónimos, deixaram de se
>empenhar no aprofundamento do projecto comunista e
>aceitaram a sua substituição por um logro.
>
>A camarada que aceitou tornar-se crítica contida é a
>imagem poderosa de uma certa acomodação dos militantes
>que deixam verdadeiramente de bater o pé às questões
>essenciais. Da mesma forma que anos antes o marido, um
>comunista que deixa de encontrar razões para continuar
>a lutar e resolve passar-se para Berlim oeste. Ambos
>testemunham um adeus ao espírito de Lenine muito antes
>dos acontecimentos da queda do muro. Foi aí, e não
>depois, que Lenine se tornou uma estátua.
>
>Não concordo nada que o filme questione o comunismo,
>Lenine, ou projecto que continua a mobilizar milhões
>de trabalhadores. O que ele questiona é aquela
>especial tendência para cultivar uma certa harmonia
>aparente e esconder debaixo do tapete o caminho errado
>que se estava a traçar. Podíamos até dizer que essa
>tendência especialmente chocante é bem característica
>dos alemães.
>
>Acho totalmente inadequado pensar-se que o filme é
>pro-capitalista, ou que glorifica a unificação alemã
>em moldes capitalistas.
>
>Penso mesmo que os autores serão gente bem
>progressista empenhada em renovar o projecto e
>relançar o socialismo no país onde Marx e Engels
>nasceram.
>
>O que o filme mais abertamente coloca, a todos os que
>somos comunistas é saber o que fazer hoje para que
>Lenine não se afaste de nós. Porque o Adeus a Lenine é
>o adeus a uma mistificação da sua imagem...Representa
>de facto uma ruptura com o legado de Lenine, uma
>figura totalmente contrária a toda a espécie de
>mumificação.
>
>Edgar Correia dizia algumas vezes que era preciso
>enterrar a múmia de Lenine, para que a cortina da sua
>falsificação fosse rasgada e fosse posto cobro a um
>culto patrimonial bacoco. E para que a vitalidade do
>seu legado voltasse a irromper entre os comunistas.
>
>Eu acho que o adeus Lenine é o apelo para que os
>almães rompam com uma mistificação, condição para
>iniciar o regresso ao futuro.

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Subject Author Date
Pedido de esclarecimento - dica informal - sobre Lenine...Troglodix24/05/05 23:33:33


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