Subject: Bem dito |
Author:
Calado
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Date Posted: 11/08/05 22:47:51
In reply to:
Joaquim Sarmento
's message, "A cegueira dos aparelhos partidários" on 11/08/05 18:16:52
Afinal ainda há no PS pessoas com valor. este, por exemplo.
>Tenho reflectido muito ultimamente sobre as
>contradições que se colocam permanentemente a um
>militante e dirigente partidário, como é o meu caso,
>obrigado a optar entre duas soluções políticas que se
>anulam, uma que vai ao encontro do acervo de valores
>da sua consciência e outra que serve interesses
>estratégicos do partido a que pertence, quase sempre
>conjunturais e descaracterizadores do seu programa e
>ideário.
>Não é somente uma conflitualidade a superar-se nos
>patamares da ética da responsabilidade e ética da
>liberdade. O conflito polariza-se entre a salvaguarda
>coerente das nossas convicções e a absolutização do
>partido, que não pode constituir um fim em si mesmo,
>tal Leviatã a entrincheirar a nossa harmonia interior
>e a vilipendiar os imperativos da nossa consciência.
>Os aparelhos partidários e, nessa perspectiva, os
>partidos, da direita à esquerda, são todos
>conservadores, funcionam como cilindros ou rolos que
>esmagam inapelavelmnete quem se oponha à bússola ou
>girândola da sua direcção.
>A subserviência dos militantes às direcções
>partidárias tem reflexos dramáticos na subordinação
>dos deputados ao governo, onde pontifica o líder do
>partido, sendo premiada a vassalagem, em detrimento da
>postura crítica, inimiga da rotina, da incompetência e
>do amiguismo.
>Os aparelhos partidários tendem a tornar-se uma das
>maiores fragilidades das democracias contemporâneas e
>um eixo crescentemente totalitário, que vai esmagando,
>sem disso nos darmos conta, a criatividade e
>pluralidade no seu interior, descredibilizando a
>política e afastando da polis um número cada vez
>maior de cidadãos, com repercussões na abstenção
>eleitoral, no desencanto dos jovens, no afastamento de
>quadros valiosos da intervenção política.
>Estas considerações entroncam naturalmente com as
>recentes movimentações em torno das presidenciais e a
>mais que provável candidatura de Mário Soares e o
>consequente assassinato político de Manuel Alegre.
>Soares é uma figura incontornável da democracia
>portuguesa. Ninguém põe isso em causa. Mas não deixa
>de ser perturbante que o PS tenha de ancorar-se no
>senador Soares e transformá-lo numa espécie de remake
>hodierno de Frei Bartolomeu dos Mártires, como se
>todos estivéssemos velhos e tenha que ser ele, Soares,
>aos 80 anos, a pedir a nossa reforma. O vazio
>ideológico que grassa no PS tem no recurso a Mário
>Soares uma bóia de salvação, não deixando, porém, de
>representar um perverso e injusto cerco a Manuel
>Alegre, um dos poucos dirigentes socialistas que
>sempre pautaram o seu discurso e a sua praxis pela
>ênfase ao cultural e à força das ideias.
>Mas Alegre não é um seguro eleitoral contra todos os
>riscos. E o aparelho do PS, respondendo a um sinal
>verde de Sócrates, acorreu lesto a divinizar Soares,
>arremessando para o silêncio Alegre, como se este não
>existisse, não tivesse sentimentos, não respirasse e
>não merecesse uma explicação.
>O PS, na ânsia de ganhar tudo, arrisca-se, ao
>assassinar os seus generais, a perder tudo e sobretudo
>a perder a alma. Estou, pois, solidário com Manuel
>Alegre. Aliás, o autor de Praça da Canção sempre se
>poderá confortar na sua solidão com o desabafo
>clássico: "Os corvos voam em bando, a águia voa
>sozinha."
>Presidente da concelhia de Lamego e membro da comissão
>nacional do PS
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