Author:
Jorge Nascimento Fernandes
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Date Posted: 11:05:50 08/26/02 Mon
In reply to:
Gonçalo Valverde
's message, "Intelectuais e intelectuais" on 09:22:28 08/26/02 Mon
Os Intelectuais e o Partido Comunista
Caro Gonçalo Valverde
Gostei da sua intervenção e acrescentaria mais alguns considerandos.
Por razões que não me interessa agora aprofundar, sempre houve no movimento comunista o desejo de ganhar uma certa respeitabilidade, contando com o apoio de um certo número de intelectuais. O assunto não é de agora, vem dos anos 30, principalmente da luta contra o fascismo e por alturas das frentes populares. O apoio de intelectuais foi importante e não vou agora rememorar todas as grandes reuniões que se realizaram antes da II Guerra Mundial e que contaram com o apoio dos intelectuais mais prestigiados da época. O mesmo se passou com a defesa da República Espanhola. Posteriormente, houve igualmente a sua participação na Resistência ao fascismo e na luta pela Paz. No século XX o intelectual passou a ter um papel importante e mobilizador na luta pelas grandes causas e simultaneamente no apoio aos objectivos dos comunistas. Portugal não fugiu à regra, tendo aqui os intelectuais desempenhado um papel importantíssimo
É interessante que, no rescaldo da queda do "socialismo real" e na ofensiva reaccionária que as forças de direita desencadearam, muitos intelectuais que apoiaram causas comuns com os comunistas tivessem sido chamados à pedra, do mesmo modo que aqueles que colaboraram com o fascismo foram acusados de colaboracionismo e traição no pós-guerra.
Vem tudo isto a propósito de que os intelectuais sempre foram para o movimento comunistas uma espécie de estimação e que estes, em certas alturas, não regatearam o seu apoio. Daí que os Partidos Comunistas sempre tivessem os seus intelectuais.
É um pouco desta história que permite ao Partido ter um sector intelectual e classificar muitos dos seus quadros, só por terem frequentado a universidade ou por terem tido no passado uma profissão que não era operária ou camponesa, como intelectuais. É evidente, que aos olhos da opinião pública, muito influenciada pelo horror que tem às intelectualices, isto soa mal. E se é prestigiante apresentar uma lista de intelectuais que apoiam o Partido, já o não é quando se mistura nessa lista um sem número de doutores, engenheiros ou arquitectos, que o senso comum não considera como intelectuais. É evidente que isto é outra das contradições do Partido com a realidade. Hoje, por exemplo, como muito bem tem vindo a ser aqui referido pelo Paulo Fidalgo, a integração dos médicos no processo produtivo da saúde, há muito que os afastou da áurea "prestigiante" de intelectuais ou de profissionais independentes que tinham.
É evidente que em momentos de crise, de luta mais sectária ou quando os intelectuais "mijam fora do penico", expressão que já ouvi no Partido, seja necessário metê-los na ordem ou fazer vir ao de cima o pulsar obreirista, sempre latente nos camaradas de extracção operária e não só. É um pouco o que se passa agora com as declarações do Jerónimo de Sousa, falando depreciativamente das leituras do Capital, ou do Domingos Abrantes quando fez apelo à consciência da classe operária na luta contra os intelectuais que jantam em restaurantes caros.
Quanto à necessidade da teoria e da prática não sou eu que o vai negar. Todos nós conhecemos a frase de Marx que os filósofos tinham até aqui interpretado o mundo, a partir de agora era necessário transformá-lo (cito de memória).
Um abraço
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