Subject: O BE é uma ameaça |
Author:
TOLENTINO
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Date Posted: 00:05:37 09/06/02 Fri
In reply to:
Filipe Rocha
's message, "Viva o partido único?" on 23:06:57 09/05/02 Thu
Claro que tenho saudades dos tempos da gloriosa URSS de Estaline e de Brejnev. Se assim não fosse seria eu comunista?
Claro que quero um regime de partido único. Se assim não fosse seria eu leninista?
Claro que o BE - amálgama de estalinistas envergonhados, de trotskistas sem vergonha e, especialmente, de radicalistas pequeno burgueses de fachada socialista - representa uma ameaça para o verdadeiro socialismo. Para já tira votos ao PCP e engana os trabalhadores, o que já é muito.
Entendidos?
Tolentino
>Ao que parece o sr. Tolentino morre de saudades dos
>velhos tempos dos regimes de partido único do leste
>europeu... É pena que passada mais de uma década sobre
>a derrocada do Bloco de Leste ainda não tenha
>entendido que qualquer projecto de construção de uma
>sociedade socialista necessita, como de pão para a
>boca, de debate de ideias - e só há debate de ideias
>se houver capacidade de ouvir - o que não é sinónimo
>de concordar - ideias diferentes das que se sustentam;
>mesmo que sejam diametralmente opostas (quantas obras
>de autores burgueses leram e rebateram - para rebater
>é preciso ler primeiro, não é? - Marx e Lenine?). Mas
>enfim, o sr. Tolentino já deve ter desistido de
>construir o socialismo - já se contenta com a
>hegemonia do quintalinho (cada vez menor) da esquerda.
>E é por isso que vê no Bloco uma ameaça.
>
>>Já só nos faltava esta. Agora o fórum sobre o PCP
>>serve de site do Bloco de Esquerda.
>>Porque não alguém fazer também um paste/copy de alguns
>>artigos do Povo Livre, por exemplo. Passavamos a ter
>>também aqui o PPD-PSD e qualquer dia isto até parecia
>>o novo parlamento virtual.
>>Alguma vergonha, meus senhores, alguma vergonha que
>>vos faz falta.
>>Tolentino
>>
>>>Esquerda de Outono
>>>
>>>Muito se tem escrito sobre um hipotético namoro entre
>>>o PS e o BE que pudesse desembocar em casamento. A
>>>ideia tinha as cores do Verão, mas convém não
>>>simplificar, agora que se entra num Outono quente,
>que
>>>vai exigir a convergência entre as diferentes
>>>esquerdas sociais e políticas.
>>>
>>>1 - O que move os dirigentes socialistas que
>>>recentemente fizeram textos e declarações sugerindo o
>>>namoro, é a sua vontade de regresso ao poder. Essa é,
>>>para eles, a questão da política. É no universo dessa
>>>política enquanto exercício do poder político que se
>>>movem e não conhecem outro. Eles suspeitam,
>>>simplesmente, que talvez não regressem tão cedo ao
>>>Governo se o fizerem sozinhos. E começam a entender
>>>que o Bloco veio para ficar, que não é passageiro na
>>>esquerda portuguesa. Somadas as suspeitas, a
>conclusão
>>>é óbvia: os votos dos bloquistas fazem falta ao
>>>objectivo do PS.
>>>
>>>2 - Acontece que este não é o universo das
>>>preocupações bloquistas. O que move o Bloco - e
>>>determina, entre outras coisas, a relação com o PS -
>é
>>>a formação de um bloco social e político de oposição,
>>>que seja portador de um projecto de sociedade em
>>>ruptura com a actual expressão imperial da
>>>globalização e represente uma real alternativa para o
>>>País, no contexto europeu. A diferença de objectivos
>e
>>>modos é qualitativa. Onde a rosa acentua o regresso
>ao
>>>poder, os bloquistas orientam a sua acção para a
>>>construção de contra-poderes na sociedade, que possam
>>>inscrever o futuro no presente. Onde a rosa insiste
>>>sobre a governabilidade, aceitando os fundamentos da
>>>ordem que a rege, os bloquistas partem da sua crítica
>>>para o programa de reformas fortes de que o País
>>>precisa, se quiser romper com as injustiças de um
>>>desenvolvimento periférico e pato-bravista. Nada
>disto
>>>impede acordos importantes sobre os direitos que
>sejam
>>>aquisições da nossa democracia. Nem ilude a questão -
>>>a que regressarei noutra ocasião - de saber como
>>>derrotar a direita de Governo nas urnas. Mas não se
>>>pense que a diferença é secundária.
>>>
>>>3 - Vale a pena traduzi-la em grandes opções. Na mais
>>>benigna das hipóteses, o de um "guterrismo
>melhorado",
>>>o PS gostaria de distribuir um pouco melhor a riqueza
>>>sem pôr em causa o Pacto de Estabilidade da União
>>>Europeia. O Bloco, pelo contrário, não equaciona a
>>>governabilidade sobre o colete de forças que condena
>o
>>>País a resolver a crise económica com mais crise. Não
>>>é desinteresse pelo poder, muito menos cultura
>>>política que se esgota na oposição. Representa, tão
>>>somente, um distinto modo de ler a política e o
>poder.
>>>Recusando o colete de forças, o Bloco fica livre para
>>>ajudar o movimento por uma outra Europa, a que se
>dote
>>>de políticas públicas e fiscais que relancem a
>>>economia e evitem que o custo da recessão seja o
>>>desemprego, a generalização da precarização e a
>quebra
>>>de qualidade nos serviços. Essa é a Europa que luta.
>>>
>>>Para a rosa, o centro da política é o próprio jogo
>>>político-institucional e instrumental, é a
>>>conflitualidade social. Para o Bloco, a aposta
>>>política faz-se nas dinâmicas e movimentos não
>>>governamentais, na sociedade que mexe, e a dimensão
>>>partidária e institucional é a que procura traduzir
>em
>>>projecto esses grãos de futuro que o presente
>>>transporta consigo.
>>>
>>>4 - A direcção socialista tem sido favorável aos
>>>alinhamentos de uma Europa raptada pelos Estados
>>>Unidos. O triângulo de nova direita que actualmente
>>>dirige a UE tem o seu expoente em Tony Blair. O
>>>programa é o do suicídio da Europa nas guerras dos
>EUA
>>>- vejam-se as declarações de Blair sobre a guerra com
>>>o Iraque. O programa é, também, o proteccionismo dos
>>>bens dos países ricos que condena o
>subdesenvolvimento
>>>à eternidade - e aí está o comportamento da UE na
>>>última cimeira da Terra para o provar. O programa é,
>>>ainda, a desregulamentação radical dos mercados, a
>>>começar pelo do trabalho - e a versão portuguesa aí
>>>está, terrível na nudez com que evidencia a vontade
>do
>>>capital se libertar das suas obrigações com o
>>>trabalho. E o programa é, finalmente, a
>mercadorização
>>>de todos os serviços públicos, destruindo o Contrato
>>>Social, que sedimentou a própria social-democracia na
>>>Europa. Por causa desta Europa raptada, perderam os
>>>socialistas as últimas eleições.
>>>
>>>Por cá e por lá.
>>>
>>>Pelo contrário, a nova esquerda investe as suas
>>>energias no desenvolvimento, também em Portugal, de
>um
>>>"movimento de movimentos", que é hoje global e
>europeu
>>>e coloca a exigência de uma ruptura com a aventura
>que
>>>condena a Europa ao suicídio político e à regressão
>>>social e civilizacional. Há, portanto, muito caminho
>e
>>>debate a fazer. O tempo não é de casamentos.
>>>
>>>5 - É de encontros em contexto de luta. É a
>>>polarização dos conflitos sociais e civilizacionais
>>>que fará a verdadeira prova, na sociedade, dos
>>>realinhamentos políticos e de proposta à esquerda.
>>>Suspeito que se enganam os que pensam que, no fim, a
>>>conflitualidade que isolará a direita de Governo
>cairá
>>>em peso no voto útil. Pelo contrário, a polarização
>>>polariza a política. À esquerda, polarizar-se-á em
>>>quem souber interpretar o combate em sociedades
>>>complexas, onde as diferentes causas e experiências
>>>convirjam num programa de civilização que ultrapasse
>>>as fronteiras das políticas redistributivas. Acabou o
>>>tempo em que a esquerda corria para o centro.
>>>Anunciam-se os tempos em que o centro, para
>>>sobreviver, terá que caminhar em direcção à esquerda.
>>>Para isso, convenhamos, "guterrismo melhorado" não
>>>chega.
>>>
>>>mportas@netcabo.pt
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