Subject: Viva o partido único? |
Author:
Filipe Rocha
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Date Posted: 23:06:57 09/05/02 Thu
In reply to:
TOLENTINO
's message, "Isto agora é o site do BE" on 18:02:34 09/05/02 Thu
Ao que parece o sr. Tolentino morre de saudades dos velhos tempos dos regimes de partido único do leste europeu... É pena que passada mais de uma década sobre a derrocada do Bloco de Leste ainda não tenha entendido que qualquer projecto de construção de uma sociedade socialista necessita, como de pão para a boca, de debate de ideias - e só há debate de ideias se houver capacidade de ouvir - o que não é sinónimo de concordar - ideias diferentes das que se sustentam; mesmo que sejam diametralmente opostas (quantas obras de autores burgueses leram e rebateram - para rebater é preciso ler primeiro, não é? - Marx e Lenine?). Mas enfim, o sr. Tolentino já deve ter desistido de construir o socialismo - já se contenta com a hegemonia do quintalinho (cada vez menor) da esquerda. E é por isso que vê no Bloco uma ameaça.
>Já só nos faltava esta. Agora o fórum sobre o PCP
>serve de site do Bloco de Esquerda.
>Porque não alguém fazer também um paste/copy de alguns
>artigos do Povo Livre, por exemplo. Passavamos a ter
>também aqui o PPD-PSD e qualquer dia isto até parecia
>o novo parlamento virtual.
>Alguma vergonha, meus senhores, alguma vergonha que
>vos faz falta.
>Tolentino
>
>>Esquerda de Outono
>>
>>Muito se tem escrito sobre um hipotético namoro entre
>>o PS e o BE que pudesse desembocar em casamento. A
>>ideia tinha as cores do Verão, mas convém não
>>simplificar, agora que se entra num Outono quente, que
>>vai exigir a convergência entre as diferentes
>>esquerdas sociais e políticas.
>>
>>1 - O que move os dirigentes socialistas que
>>recentemente fizeram textos e declarações sugerindo o
>>namoro, é a sua vontade de regresso ao poder. Essa é,
>>para eles, a questão da política. É no universo dessa
>>política enquanto exercício do poder político que se
>>movem e não conhecem outro. Eles suspeitam,
>>simplesmente, que talvez não regressem tão cedo ao
>>Governo se o fizerem sozinhos. E começam a entender
>>que o Bloco veio para ficar, que não é passageiro na
>>esquerda portuguesa. Somadas as suspeitas, a conclusão
>>é óbvia: os votos dos bloquistas fazem falta ao
>>objectivo do PS.
>>
>>2 - Acontece que este não é o universo das
>>preocupações bloquistas. O que move o Bloco - e
>>determina, entre outras coisas, a relação com o PS - é
>>a formação de um bloco social e político de oposição,
>>que seja portador de um projecto de sociedade em
>>ruptura com a actual expressão imperial da
>>globalização e represente uma real alternativa para o
>>País, no contexto europeu. A diferença de objectivos e
>>modos é qualitativa. Onde a rosa acentua o regresso ao
>>poder, os bloquistas orientam a sua acção para a
>>construção de contra-poderes na sociedade, que possam
>>inscrever o futuro no presente. Onde a rosa insiste
>>sobre a governabilidade, aceitando os fundamentos da
>>ordem que a rege, os bloquistas partem da sua crítica
>>para o programa de reformas fortes de que o País
>>precisa, se quiser romper com as injustiças de um
>>desenvolvimento periférico e pato-bravista. Nada disto
>>impede acordos importantes sobre os direitos que sejam
>>aquisições da nossa democracia. Nem ilude a questão -
>>a que regressarei noutra ocasião - de saber como
>>derrotar a direita de Governo nas urnas. Mas não se
>>pense que a diferença é secundária.
>>
>>3 - Vale a pena traduzi-la em grandes opções. Na mais
>>benigna das hipóteses, o de um "guterrismo melhorado",
>>o PS gostaria de distribuir um pouco melhor a riqueza
>>sem pôr em causa o Pacto de Estabilidade da União
>>Europeia. O Bloco, pelo contrário, não equaciona a
>>governabilidade sobre o colete de forças que condena o
>>País a resolver a crise económica com mais crise. Não
>>é desinteresse pelo poder, muito menos cultura
>>política que se esgota na oposição. Representa, tão
>>somente, um distinto modo de ler a política e o poder.
>>Recusando o colete de forças, o Bloco fica livre para
>>ajudar o movimento por uma outra Europa, a que se dote
>>de políticas públicas e fiscais que relancem a
>>economia e evitem que o custo da recessão seja o
>>desemprego, a generalização da precarização e a quebra
>>de qualidade nos serviços. Essa é a Europa que luta.
>>
>>Para a rosa, o centro da política é o próprio jogo
>>político-institucional e instrumental, é a
>>conflitualidade social. Para o Bloco, a aposta
>>política faz-se nas dinâmicas e movimentos não
>>governamentais, na sociedade que mexe, e a dimensão
>>partidária e institucional é a que procura traduzir em
>>projecto esses grãos de futuro que o presente
>>transporta consigo.
>>
>>4 - A direcção socialista tem sido favorável aos
>>alinhamentos de uma Europa raptada pelos Estados
>>Unidos. O triângulo de nova direita que actualmente
>>dirige a UE tem o seu expoente em Tony Blair. O
>>programa é o do suicídio da Europa nas guerras dos EUA
>>- vejam-se as declarações de Blair sobre a guerra com
>>o Iraque. O programa é, também, o proteccionismo dos
>>bens dos países ricos que condena o subdesenvolvimento
>>à eternidade - e aí está o comportamento da UE na
>>última cimeira da Terra para o provar. O programa é,
>>ainda, a desregulamentação radical dos mercados, a
>>começar pelo do trabalho - e a versão portuguesa aí
>>está, terrível na nudez com que evidencia a vontade do
>>capital se libertar das suas obrigações com o
>>trabalho. E o programa é, finalmente, a mercadorização
>>de todos os serviços públicos, destruindo o Contrato
>>Social, que sedimentou a própria social-democracia na
>>Europa. Por causa desta Europa raptada, perderam os
>>socialistas as últimas eleições.
>>
>>Por cá e por lá.
>>
>>Pelo contrário, a nova esquerda investe as suas
>>energias no desenvolvimento, também em Portugal, de um
>>"movimento de movimentos", que é hoje global e europeu
>>e coloca a exigência de uma ruptura com a aventura que
>>condena a Europa ao suicídio político e à regressão
>>social e civilizacional. Há, portanto, muito caminho e
>>debate a fazer. O tempo não é de casamentos.
>>
>>5 - É de encontros em contexto de luta. É a
>>polarização dos conflitos sociais e civilizacionais
>>que fará a verdadeira prova, na sociedade, dos
>>realinhamentos políticos e de proposta à esquerda.
>>Suspeito que se enganam os que pensam que, no fim, a
>>conflitualidade que isolará a direita de Governo cairá
>>em peso no voto útil. Pelo contrário, a polarização
>>polariza a política. À esquerda, polarizar-se-á em
>>quem souber interpretar o combate em sociedades
>>complexas, onde as diferentes causas e experiências
>>convirjam num programa de civilização que ultrapasse
>>as fronteiras das políticas redistributivas. Acabou o
>>tempo em que a esquerda corria para o centro.
>>Anunciam-se os tempos em que o centro, para
>>sobreviver, terá que caminhar em direcção à esquerda.
>>Para isso, convenhamos, "guterrismo melhorado" não
>>chega.
>>
>>mportas@netcabo.pt
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