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Subject: Digitalismo, capitalismo e teoria do conhecimento


Author:
Jorge Nascimento Fernandes
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Date Posted: 17:32:45 08/17/02 Sat
In reply to: paulo fidalgo 's message, "digitalismo - resposta a Gonçalo Valverde" on 17:50:23 08/14/02 Wed

Digitalismo, Capitalismo e Teoria do Conhecimento

Ao fim de alguns dias de interrupção, devido ao meu regresso de férias, venho encontrar no fórum um discussão interessante travada entre Paulo Fidalgo (PF) e Gonçalo Valverde (GV).
Vou tentar meter a foice em discussão alheia, mas como gosto sempre de molhar o bico, aqui vão mais algumas opiniões.
1. Gostaria também de verberar o ataque ao fórum que presenciei na noite de 13 para 14. Tal foi o disparate, que resolvi retirar-me sem comentar nada. Pelo que vejo, o Fernando teve novamente que reintroduzir a palavra passe. É pena, porque fico sempre com saudades da Margarida Martins. Parece que o Vítor Dias já teria escrito a dizer que não escreve para aqui. No entanto, como já algum dos companheiros comentou, provavelmente a Margarida Martins será o Vítor Dias transvertido em mulher. Algum complexo antigo.
2. De acordo com o evoluir da discussão entre PF e GV parece haver alguma troca na ordem dos textos ou pelo menos nos seus títulos. Assim, PF no seu primeiro texto, que intitula "Digitalismo - Resposta a Gonçalo Valverde" (resposta a quê ?), fala, no ponto 2, no título da sua resposta que, subentende-se, deveria conter a frase "múltiplas realidades" e GV responde-lhe com um texto, esse sim designado "Digitalismo e múltiplas realidades". Não se percebe, mas isto são minudências de alguém que, por natureza, é muito picuinhas.
3. Quanto á teoria do conhecimento, é evidente que eu também aprendi pela mesma cartilha do PF. Passei os olhos pelo "Materialismo e Empirocriticismo" de Lenine, estudei pelos "Los Fundamentos de la Filosofia Marxista", da Academia de Ciências da URSS, e por muitos outros textos. As posições do GV vêm no sentido de repensar um pouco os conceitos filosóficos então adquiridos. Penso, no entanto, que muitos dos conceitos em discussão são puramente filosóficos. Assim, o que Lenine queria reafirmar no seu livro era que, do ponto de vista filosófico, existia uma realidade independente do observador que era possível conhecer, facto que a mecânica quântica põe em causa. Simplesmente, estamos aqui no campo da filosofia e não no da ciência. A propósito disto há igualmente uma discussão sobre o conceito de "matéria", em que o conceito filosófico de matéria (tenho também em meu poder um livro soviético sobre "A Matéria como Categoria Filosófica") é diferente da definição que os físicos foram dando ao longo dos tempos. Sei que isto não põe ponto final na discussão, mas penso que, neste momento, não é este o tema que nos preocupa.
Só gostaria de recordar que, logo nos anos 40, alguns marxistas se levantaram contra o princípio da incerteza de Heisenberg, acusando-o de idealista. Mais uma vez, tal como eu referi a propósito de Lysenko, quando a teoria científica não correspondia aos estreitos cânones da dialéctica da natureza, os autores eram considerados como idealista e condenados, se fossem soviéticos, ao desemprego e provavelmente à prisão e aos trabalhos forçados, se fossem ocidentais ao esquecimento e à acusação infamante de idealistas. Não disponho, na minha morada de Lisboa, do artigo em que Heisemberg é atacado, mas, se tiverem interessados, posso trazê-lo para a outra semana
4. Quanto ao que nos trás aqui, gostaria desde já de constatar que, tal como eu, os dois dialogantes não estão muito entusiasmados com a ideia defendida pelo Fernando de haver um novo modo de produção que se designaria por "digitalismo". Num pequeno texto que designei por "Capitalismo e Digitalismo" levanto algumas dúvidas, que, sendo um pouco mais ortodoxas (que raio de termo se veio infiltrar na minha prosa), põem em dúvida que os novos meios de produção sejam geradores de um novo modo de produção "potencialmente alternativo ao capitalismo" (in PF).
5. Estou muito mais de acordo com a perspectiva do GV do que a do PF, o "novo capitalismo" só por si não está a gerar uma maior socialização dos assalariados ou, como diz GV "os mecanismos de produção criados não são mecanismos tão sociais como podem parecer á primeira vista". O que se está a verificar é uma maior diversificação, acarretando uma maior estratificação social, que permite dentro dos assalariados haver uns que "são mais iguais que outros", retomando a célebre frase de Orwell aplicada noutro contexto. Gostaria aqui de vos lembrar o conceito já retirado de Marx de "aristocracia operária". Compare o PF os proventos de um médico, que só trabalhe para o SNS em exclusividade, portanto um assalariado completo, e uma empregadinha de centro comercial, com o ordenado mínimo, para falar de duas profissões que nada devem à classe operária.
6. Discordo também que seja na oposição entre uma direcção que defende a "unidade de ferro" da classe operária e o cada vez maior pluralismo socialista que esteja o cerne da crise do PCP. Penso que a crise do PCP é mais geral e que uma das causas é a falta de compreensão por parte dos camaradas da Direcção das movimentações sociais contemporâneas e simultaneamente da defesa de grupos sociais muito particulares, que se pretende que correspondam a toda a classe operária e até a todo o assalariado. Não se esqueçam que o PCP se afirma como o partido da classe operária e de todos os trabalhadores em geral. Mas acima de tudo, penso, e isto pode ser objecto de uma bela discussão, que o cerne da crise resulta da existência de um grupo dirigente e de um número elevado de militantes que não soube adequar a sua consciência política aos novos tempos em que vivemos. Houve como que uma paragem no tempo, em que a consciência política não corresponde à situação social vivida e que muitos admitem que a aquisição dessa consciencialização equivalerá à social-democratização do Partido ou à assunção dos novos valores do capitalismo desenvolvido. Penso igualmente que existe um grupo dirigente que se defende, do ponto de vista ideológico, com os valores tradicionais do marxismo-leninismo e da tradição comunista para se perpetuar no poder. Este tema dava pano para mangas.
6. Outro tema também aflorado é que o PCP é o partido "dos pequenos e médios agricultores, dos intelectuais e quadros técnicos, dos pequenos e médios comerciantes e industriais". Este assunto, se retirarmos os "intelectuais e quadros técnicos", mas que neste caso parecem-me ser considerados como profissionais independentes, tem sido objecto de algumas críticas esquerdistas, quando ainda as havia. No fundo, seríamos um partido da defesa dos interesses da pequena burguesia, das classes hesitantes e recuadas, a nossa posição de defesa da revolução nacional e democrática, em vez da revolução socialista, era o resultado do nosso compromisso com essas camadas. Esta crítica, muito vulgar no final dos anos 60 e início de 70, hoje é descabida, mas muitas vezes a defesa destas camadas leva-nos a apoiar reivindicações que são conservadoras, não nos permitindo compreender os novos grupos sociais que o capitalismo da era digital deu origem.
7. Não gostaria de terminar sem uma referência específica a alguns problemas que eu tenho vindo a defender neste fórum. Tem havido da vossa parte e do Fernando, que introduziu o tema, uma grande preocupação na análise económica da sociedade e na definição das classes em jogo. Sei que isto é importante, foi dessa análise que Marx partiu, no entanto, há uma especificidade propriamente política que deve ser discutida. A caracterização social e económica da sociedade são quanto a mim extremamente importantes, mas a análise das condições políticas, do instrumento necessário à mudança, os problemas da hegemonia cultural, ideológica e política não são menos importantes e isso é também necessário discutir.

Um abraço

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Subject Author Date
Novo modo de produção, porque não ?Fernando Redondo21:20:30 08/17/02 Sat
Não confundir alhos com bugalhosFernando Redondo21:41:14 08/17/02 Sat
Teoria do conhecimento....paulo fidalgo10:25:35 08/18/02 Sun


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