| Subject: Por acaso, precisamente há um ano fui a Cuba... |
Author:
Ana Maria
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Date Posted: 25/06/05 19:44:16
In reply to:
Visitante
's message, "É que o comunismo é mesmo tenebroso!" on 21/06/05 23:05:51
"Dou-te também o conselho já aqui repetido: vai até Cuba, temperar o teu idealismo comunista, e depois tenta convencer-nos da bondade do comunismo que ainda resta. Isto, para não te recomendar estágios mais interessantes na China ou no Vietnam."
Por acaso, precisamente há um ano fui a Cuba. Espero economizar o suficiente para talvez daqui a dois ou três anos ir à China e ao Vietname. Mas um dos meus irmãos já lá foi - e ao Laos também -, e adorou! Encontrou países onde a maioria da população era muito jovem, muito dinâmica e muito industriosa.
E se você em relação a Cuba fala numa "sociedade comunista, planificada, ordenada e controlada", como se fosse uma coisa terrível, horrorosa, não sabe do que está a falar. Nunca de certeza foi a Cuba.
É que Cuba está dividida em 14 províncias (regiões) e são as autoridades locais que têm a responsabilidade por exemplo da educação, da saúde, da economia, da agricultura, turismo, indústria e política cultural e desportiva das suas regiões. E essas autoridades locais são votadas pelo povo local que quando não correspondem não os reelegem.
Cuba tem por exemplo, agora, soberania alimentar. Só importa parte do arroz que consome. Tudo o resto é lá produzido. E quem atravessa a ilha toda, de leste a oeste, vê os campos tratados, as florestas limpas e aproveitadas, a pecuária em expansão, vê que tem indústria de lacticínios e de bebidas, os tempos da monocultura da cana e do tabaco já foram. Ninguém em Cuba passa dificuldades alimentares, ninguém em Cuba passa fome, aprenderam (com a queda da URSS e dos sistemas do leste europeu) a importância de nunca mais dependerem de ninguém para comer.
Também na educação e na saúde - que lá é de facto universal e gratuíta - têm soberania. Cada província tem um complexo universitário (com variados cursos) e uma universidade de ciências da saúde. Isto é, Cuba que tem a mesma população que Portugal tem 14 universidades de ciências da saúde! E lá a educação e a saúde são levadas a sério. Lá, por exemplo, do 1º ao 9º ano de escolaridade cada professor tem até 15 alunos a seu cargo e cada aluno tem escola de manhã e de tarde! Lá se os pais faltam a uma reunião, os professores vão a casa dos pais, porque os pais são também responsáveis pela educação dos filhos! Lá os professores têm acções de formação frequentemente. Lá cada aluno tira o curso que pretende tirar.
Sabemos que os pontos frágeis são o sistema de transportes e a reabilitação das habitações. Com excepção dos autocarros que os brasileiros para lá venderam recentemente, os meios de transporte são as relíquias dos automóveis americanos de antes da revolução e dos camiões do leste europeu do pós revolução. Mais uns tantos milhões de bicicleta, motorizadas de todas as formas e feitios e outras maquinetas "andantes" que o engenho local inventou. Mas têm ainda a linha férrea que atravessa toda a ilha e uma boa rede de aeroportos locais e de transportes aéreos. E como a população trabalha nas cidades onde vive e o clima é ameno e a imaginação delirante, lá se vão amanhando com mais ou menos estética.
Quanto à habitação, o que mais impressiona é que mais de 70% dos cubanos são proprietários das casas. E que há crédito para quem não é e quer ser. E que praticamente todas as cidades têm os seus centros históricos reabilitados ou em vias de reabilitação. E que é raro encontrar-se uma igreja ou convento - seja qual fôr a religião -, ou uma fortaleza, ou um teatro ou cinema em completa degradação. E que em qualquer cidade, é muito raro encontrar-se uma escola ou um hospital com mau aspecto! E que em todas as cidades há hotéis, pensões, restaurantes, casas da cultura, casas da trova, bibliotecas, abertas a toda a gente, e onde nós, os estrangeiros podemos ir e conviver com os locais.
E que todas as cidades têm os seus mercados, muitos ao ar livre como por cá, onde há profusão de frutas, carnes, feijões, legumes, quantas vezes roupas e artesanato.
Mas o melhor que Cuba tem são os cubanos. Pesoas alegres, simpáticas e principalmente informadas, cultas e faladoras. Que adoram discutir seja o que fôr, que sabem o que se passa no mundo e no seu país, que têm muito orgulho em ser quem são. Claro que gostavam viajar mas sabem porque o não podem fazer. Pessoas que de facto no início da década de 90 passaram por um mau bocado. Mas que sabem que hoje vivem infinitamente melhor porque já viveram infinitamente pior.
E nesta altura que aprofundaram relações com os chineses (já não dependem do Canadá para a venda do seu níquel...), com os venezuelanos, brasileiros e argentinos, que mantêm as relações com os canadianos, alemães, espanhóis, mexicanos e outros vizinhos da América do Sul ou de África - têm relações de cooperação com dezenas de países -, nesta altura, apesar do bloqueio criminoso dos USA, têm condições para se continuarem a desenvolver.
Nesta altura, os cubanos, têm o que nós ainda não temos: um povo culto e participativo, que sabe viver com o que há no seu país. Não os menorize. São um grande exemplo
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