Subject: Isto agora é o site do BE |
Author:
TOLENTINO
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Date Posted: 18:02:34 09/05/02 Thu
In reply to:
Alexandre Ulianov
's message, "Miguel Portas an DN" on 17:18:06 09/05/02 Thu
Já só nos faltava esta. Agora o fórum sobre o PCP serve de site do Bloco de Esquerda.
Porque não alguém fazer também um paste/copy de alguns artigos do Povo Livre, por exemplo. Passavamos a ter também aqui o PPD-PSD e qualquer dia isto até parecia o novo parlamento virtual.
Alguma vergonha, meus senhores, alguma vergonha que vos faz falta.
Tolentino
>Esquerda de Outono
>
>Muito se tem escrito sobre um hipotético namoro entre
>o PS e o BE que pudesse desembocar em casamento. A
>ideia tinha as cores do Verão, mas convém não
>simplificar, agora que se entra num Outono quente, que
>vai exigir a convergência entre as diferentes
>esquerdas sociais e políticas.
>
>1 - O que move os dirigentes socialistas que
>recentemente fizeram textos e declarações sugerindo o
>namoro, é a sua vontade de regresso ao poder. Essa é,
>para eles, a questão da política. É no universo dessa
>política enquanto exercício do poder político que se
>movem e não conhecem outro. Eles suspeitam,
>simplesmente, que talvez não regressem tão cedo ao
>Governo se o fizerem sozinhos. E começam a entender
>que o Bloco veio para ficar, que não é passageiro na
>esquerda portuguesa. Somadas as suspeitas, a conclusão
>é óbvia: os votos dos bloquistas fazem falta ao
>objectivo do PS.
>
>2 - Acontece que este não é o universo das
>preocupações bloquistas. O que move o Bloco - e
>determina, entre outras coisas, a relação com o PS - é
>a formação de um bloco social e político de oposição,
>que seja portador de um projecto de sociedade em
>ruptura com a actual expressão imperial da
>globalização e represente uma real alternativa para o
>País, no contexto europeu. A diferença de objectivos e
>modos é qualitativa. Onde a rosa acentua o regresso ao
>poder, os bloquistas orientam a sua acção para a
>construção de contra-poderes na sociedade, que possam
>inscrever o futuro no presente. Onde a rosa insiste
>sobre a governabilidade, aceitando os fundamentos da
>ordem que a rege, os bloquistas partem da sua crítica
>para o programa de reformas fortes de que o País
>precisa, se quiser romper com as injustiças de um
>desenvolvimento periférico e pato-bravista. Nada disto
>impede acordos importantes sobre os direitos que sejam
>aquisições da nossa democracia. Nem ilude a questão -
>a que regressarei noutra ocasião - de saber como
>derrotar a direita de Governo nas urnas. Mas não se
>pense que a diferença é secundária.
>
>3 - Vale a pena traduzi-la em grandes opções. Na mais
>benigna das hipóteses, o de um "guterrismo melhorado",
>o PS gostaria de distribuir um pouco melhor a riqueza
>sem pôr em causa o Pacto de Estabilidade da União
>Europeia. O Bloco, pelo contrário, não equaciona a
>governabilidade sobre o colete de forças que condena o
>País a resolver a crise económica com mais crise. Não
>é desinteresse pelo poder, muito menos cultura
>política que se esgota na oposição. Representa, tão
>somente, um distinto modo de ler a política e o poder.
>Recusando o colete de forças, o Bloco fica livre para
>ajudar o movimento por uma outra Europa, a que se dote
>de políticas públicas e fiscais que relancem a
>economia e evitem que o custo da recessão seja o
>desemprego, a generalização da precarização e a quebra
>de qualidade nos serviços. Essa é a Europa que luta.
>
>Para a rosa, o centro da política é o próprio jogo
>político-institucional e instrumental, é a
>conflitualidade social. Para o Bloco, a aposta
>política faz-se nas dinâmicas e movimentos não
>governamentais, na sociedade que mexe, e a dimensão
>partidária e institucional é a que procura traduzir em
>projecto esses grãos de futuro que o presente
>transporta consigo.
>
>4 - A direcção socialista tem sido favorável aos
>alinhamentos de uma Europa raptada pelos Estados
>Unidos. O triângulo de nova direita que actualmente
>dirige a UE tem o seu expoente em Tony Blair. O
>programa é o do suicídio da Europa nas guerras dos EUA
>- vejam-se as declarações de Blair sobre a guerra com
>o Iraque. O programa é, também, o proteccionismo dos
>bens dos países ricos que condena o subdesenvolvimento
>à eternidade - e aí está o comportamento da UE na
>última cimeira da Terra para o provar. O programa é,
>ainda, a desregulamentação radical dos mercados, a
>começar pelo do trabalho - e a versão portuguesa aí
>está, terrível na nudez com que evidencia a vontade do
>capital se libertar das suas obrigações com o
>trabalho. E o programa é, finalmente, a mercadorização
>de todos os serviços públicos, destruindo o Contrato
>Social, que sedimentou a própria social-democracia na
>Europa. Por causa desta Europa raptada, perderam os
>socialistas as últimas eleições.
>
>Por cá e por lá.
>
>Pelo contrário, a nova esquerda investe as suas
>energias no desenvolvimento, também em Portugal, de um
>"movimento de movimentos", que é hoje global e europeu
>e coloca a exigência de uma ruptura com a aventura que
>condena a Europa ao suicídio político e à regressão
>social e civilizacional. Há, portanto, muito caminho e
>debate a fazer. O tempo não é de casamentos.
>
>5 - É de encontros em contexto de luta. É a
>polarização dos conflitos sociais e civilizacionais
>que fará a verdadeira prova, na sociedade, dos
>realinhamentos políticos e de proposta à esquerda.
>Suspeito que se enganam os que pensam que, no fim, a
>conflitualidade que isolará a direita de Governo cairá
>em peso no voto útil. Pelo contrário, a polarização
>polariza a política. À esquerda, polarizar-se-á em
>quem souber interpretar o combate em sociedades
>complexas, onde as diferentes causas e experiências
>convirjam num programa de civilização que ultrapasse
>as fronteiras das políticas redistributivas. Acabou o
>tempo em que a esquerda corria para o centro.
>Anunciam-se os tempos em que o centro, para
>sobreviver, terá que caminhar em direcção à esquerda.
>Para isso, convenhamos, "guterrismo melhorado" não
>chega.
>
>mportas@netcabo.pt
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