| Subject: A vilania |
Author:
Manuel Salgado
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Date Posted: 19/07/05 14:08:35
A vilania
Costuma dizer-se que são precisos dois para dançar o tango, ou, mais apropriado neste caso, para haver um “gentlemen’s agreement” são precisos, pelo menos, dois cavalheiros…
Mesmo antes da redacção de um manifesto discutido por um extenso grupo de pessoas com provas dadas na sua militância por Lisboa, houve contactos com o Prof. Manuel Maria Carrilho, o qual utilizou (sem fazermos questão da paternidade) textos e ideias nossas e me convidou para integrar a lista da sua candidatura a Lisboa.
Para assumir aquele lugar considerei como ponto de honra renunciar pessoalmente a toda a actividade profissional como arquitecto, vender a minha participação no gabinete de projectos ao qual estou ligado e garantir que o mesmo deixaria de projectar para Lisboa. Estas eram condições duras para mim e para todos aqueles que comigo trabalham, mas que sempre considerei indispensável para exercer qualquer função autárquica. Este foi o ponto de partida para as conversas que se seguiram e que desde o início comuniquei ao Prof. Manuel Maria Carrilho.
Confirmo que o Prof. Carrilho não aceitou as condições políticas que lhe apresentei, que traduziam a leitura que fazemos dos desafios de Lisboa e deste embate eleitoral, e adianto que, no sentido inverso, também nunca poderia aceitar as ofertas políticas que me fez.
E tudo se encerraria, em “gentlemen’s agreement” que acertámos antes da minha saída para o estrangeiro, pela divulgação do nosso manifesto de apoio e uma explicação circunstancial da minha não integração na sua lista. No dia seguinte, já longe, fui surpreendido pela vilania da explicação da candidatura do Prof. Carrilho, ao abordar este episódio nas páginas do Expresso. Virou as minhas preocupações deontológicas ao contrário e apresentou-as sob a capa de uma súbita “incompatibilidade ética”, que seria para mim ofensiva se alguém, a começar pelos que me conhecem, lhe desse o mínimo crédito.
A interrogação que agora me faço não é se devo retirar um apoio político programático que já dei, sem estados de alma. A minha interrogação mais funda é se um apoio político pode sobreviver a deficiências de carácter.
Por mim, decidi deixar de apoiar a candidatura do Prof. Manuel Maria Carrilho à Câmara Municipal de Lisboa
Lisboa, 11 de Julho de 2005-07-19
Manuel Salgado
(Expresso, 16/07/05)
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