Author:
Jorge Nascimento Fernandes
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Date Posted: 12:08:42 08/21/02 Wed
In reply to:
sabumacuti
's message, "... quem faz parte da maioria ?" on 01:05:43 08/21/02 Wed
Caro sabumacuti
Em primeiro lugar, eu não tenho a mesma idade que o Paulo Fidalgo, que é francamente mais novo, portanto não envelheça o um dos nossos mais prestimosos intervenientes.
Em segundo lugar classificaria o seu texto de grande pessimismo e desalento, mas isso é a sua postura. Há, no entanto, uma coisa que desde já gostaria de abordar, o problema da teoria e da teoria revolucionária.
Já uma vez me envolvi em polémica, por interposta pessoa, com a minha amiga Rosa Redondo sobre um assunto semelhante, mas volto a ele com muito gosto. (É bom referir que a Rosa Redondo não era contra a teoria, eu é que achava que as questões teóricas demoram algum tempo e exigem muito esforço para serem formuladas)
Já na outra polémica fiz referência á célebre frase de Lenine "sem teoria revolucionária, não há movimento revolucionário" (a ideia é esta não, sei se a reproduz fielmente). Independentemente do grau de consciência política que as massas apresentem em determinado processo de luta, há o problema da formulação teórica do sentido dessa luta. Marx, sendo um homem de acção, foi também um grande teórico e conhecia, porque tinha estudado, tudo aquilo que no seu tempo se tinha escrito sobre economia política.
Portanto, a teoria é fundamental. O trabalho teórico, terá que ser produzido por aqueles que têm acesso aos conhecimentos e têm capacidade intelectual para o fazer e é um trabalho difícil, que exige muitas horas de estudo e reflexão. É evidente, que no movimento operário se tem manifestado muitas vezes oposição entre aqueles que "trabalham" e os "teóricos", sendo que às vezes isto é verdade, o certo é que normalmente é reflexo de um espírito obreirista, que subestima a teoria e que esquece que todos os grandes revolucionários foram igualmente grandes teóricos. A graça de Fidel, que reproduz, parece-me um pouco deslocada, mas é bem possível que, numa dada etapa da sua vida e em relação a uma situação bem concreta, ele a tenha pronunciado (lamentavelmente também o Jerónimo de Sousa a pronunciou). Apesar de, no nosso Partido, eu poder discordar do que dizia Carlos Aboim Inglês, presto-lhe, agora que morreu, a homenagem de ser no Sector Intelectual do Partido um defensor dos intelectuais enquanto tais e do valor da teoria. Sempre se manifestou contra todos aqueles que, com desprezo, começavam o seu discurso, eu não sou um intelectual.
Tudo isto vem a propósito de pressentir no seu texto, não um desprezo pelos intelectuais, mas de pensar que as massa não percebem nem estão interessadas naquilo que nós discutimos, então porque é que estamos com estas preocupações. É contra isto que me revolto, a formulação das questões teóricas é importante e indispensável.
Por último, quanto a Marcelo Caetano. Desde logo afirmei que havia diferenças, e há e não são de somenos, mas aquilo que eu quis dizer é que quando se começa um processo que se pretende reformista, e Marcelo não reformou nada, mas deu o ar que o ia fazer e houve de facto a possibilidade forçada de conseguir maior liberdade, por exemplo, nos sindicatos, nas cooperativas até no movimento associativo estudantil, que permitiu que a consciência que se manifestou logo a seguir ao 25 de Abri se pudesse ir desenvolvendo. Marcelo desencadeou forças que depois não foi capaz de controlar, tal como a Perestroika, desencadeou um processo a que não teve depois a possibilidade de dar a orientação devida.
Sobre o consulado de Marcelo e o seu derrube, penso que no Partido não se pensa exactamente assim, afirma-se que foi unicamente a luta dos antifascistas associada às forças armadas que o derrubou. Sendo isto verdade, não há dúvida que a luta no consulado marcelista se desenrolou em circunstâncias diferentes e com outras possibilidades, legais e semi-legais, que não existiam durante Salazar. Basta só ver o que se publicava na altura, para se compreender que houve uma mudança qualitativa importante. A própria criação do movimento dos capitães, e a força do 1º de Maio de 1974, são um reflexo de uma consciência política mais elevada, que foi possível desenvolver durante o consulado marcelista. Naquele momento, o reforço das ideias progressistas e a defesa da necessidade da transformação social são o reflexo da hegemonia que as forças de esquerda conquistaram durante aquele consulado. Um tema a desenvolver
Um abraço
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