Author:
Denise Araújo
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Date Posted: 08:29:01 02/26/03 Wed
Prezada Marlene e colegas
Bastante interessante a citação de Brown (1980: 245) utilizada por você. Acredito que ela nos mostra a importância de atribuirmos ao professor o papel de pesquisador da própria prática de ensino pois não existem verdades absolutas em relação ao processo de ensinar e aprender uma nova língua.
Seguem abaixo as minhas sugestões para as questões colocadas por você.
QUESTÃO 1:
A meu ver, as duas afirmativas se relacionam no sentido de mostrar a relevância e a relação dos fatores tais como características individuais de aprendizagem, estratégias de aprendizagem e contextualização no processo de ensino-aprendizagem de línguas. Sabemos, como já discutido nos seminários anteriores, que o ensino sistemático do uso de estratégias de aprendizagem deve buscar investigar e respeitar os estilos de aprendizagem dos aprendizes envolvidos, pois a escolha do aprendiz para o uso de uma determinada estratégia em relação a uma determinada tarefa dependerá das suas preferências individuais. Além disso, é importante que o professor tenha em mente que tarefas mais significativas devem fazer parte da sua prática de ensino no sentido de possibilitar ao aprendiz utilizar a língua-alvo em situações variadas podendo levar o aprendiz a se tornar mais motivado em relação à própria aprendizagem e ao uso de estratégias, conforme afirma Chamot (2001: : 34) sobre os resultados de um estudo realizado por O’Malley (1985): a respeito do ensino de estratégias de compreensão oral: “results showed that the strategies were helpful for the videos that students found personally interesting but not for those were less interesting or for which students lacked appropriate prior knowledge”. Em suma, acredito que o professor precisa ter sempre em mente que o seu aprendiz é um “ser humano global” que reage ao processo ensino/aprendizagem com toda a sua potencialidade cognitiva e afetiva (Freitas, 1998: 71).
QUESTÕES 2 e 3:
A partir da minha própria experiência como aprendiz de uma LE e dos pontos positivos e negativos relacionados à aprendizagem de vocabulário, tenha tentado trabalhar de forma a levar o aprendiz a usar de forma mais consciente e eficaz estratégias de aprendizagem que melhor se adequem às suas preferências e necessidades dentro de uma determinada tarefa. Através da leitura de vários estudos realizados (Cohen, 1998; Freitas, 1998; Oxford (1990) e outros, percebo o quanto é importante um tipo de instrução sistematizada para o uso de estratégias de aprendizagem de forma a conscientizar os alunos conscientes da importância das mesmas como facilitadoras da aprendizagem da LE (e de vocabulário, neste caso), e torná-los capazes de fazerem as suas próprias escolhas sobre quais estratégias são as mais apropriadas para cada tipo de atividade bem como para eles próprios. Segundo Chamot (2001: 39), através dos resultados de alguns de seus estudos, “teachers cited a variety of positive impacts that strategies instruction was having on their students, including improving understanding of the target language, helping students become more responsible and active lerners, improving motivation for langauge learning, and building independent use of strategies”.
Em minha prática de ensino de vocabulário, tenho tentado incorporar atividades significativas que priorizem a língua como elemento para comunicação para que os aprendizes tenham oportunidades de obterem um input compreensível e de praticarem/interagirem com os demais colegas, fazendo uso do conhecimento prévio (linguístico e de mundo) para a construção do conhecimento. Com o intuito de facilitar a aprendizagem de novos itens lexicais e torná-la mais eficaz tenho utilizado alguns instrumentos que, ao meu ver, além de permitir conhecer melhor os meus aprendizes, permitem a eles também conhecerem as suas potencialdades e as formas de se tornarem aprendizes mais autônomos. Dentre esses instrumentos, peço para que eles escrevam sobre a própria história de aprendizagem através de um roteiro previamente definido. Utilizo também questionários para investigar os estilos de aprendizagem e o SILL (Strategy Inventory for Language Learning) idealizado por Oxford, além de redação de diários cujo objetivo é refletir sobre as atividades trabalhadas e o papel das estratégias de aprendizagem no processo de aprendizagem. A partir da conscientização da importância do uso e da variedade de estratégias existentes na aprendizagem de uma LE (e neste caso, de vocabulário), partimos para a realização de atividades onde o aprendiz possa efetivamente utilizá-las segundo escolha própria. Dentre as estratégias discutidas em sala para a aquisição de vocabulário ressalto, segundo taxionomia de Oxford (1990), as estratégias de memória tais como “grouping, associating, using imagery, semantic mapping, keywords, representing sound in memory, using physical response or sensation”; e as estratégias cognitivas tais como “repeating, practing with sounds, recombining, recognizing and using formulas and patterns, e practicing naturalistically”. Após a realização das atividades propostas, partimos para a correção em grupo onde peço aos alunos para que explicitem as estratégias utilizadas e a relevância/significado das mesmas para a sua aprendizagem. Acredito, no entanto, que essa técnica possa ser melhor implementada se acontecer em grupos menores para depois partimos para uma discussão mais ampla com toda a classe, dando a todos chances de se expressarem. Reconheço que a implementação deste tipo de trabalho não é tarefa fácil e que deve ser feita de forma gradual, principalmente para aqueles que trabalham com turmas numerosas como eu (no momento estou fora da sala de aula), exigindo muita preparação, força de vontade e diálogo por parte do professor e também dos aprendizes.
QUESTÃO 4:
Acredito que todas as características apontadas em sua apresentação nos levam a pensar no bom aprendiz como um “ser estratégico” que efetivamente sabe planejar, monitorar e avaliar as estratégias para uma aprendizagem bem sucedida e autônoma. Acrescento, ainda, a necessidade de incorporarmos ao papel do bom aprendiz o “ser político”, segundo afirma Larsen-Freeman (1998) e Freire (2001) no sentido dele estar apto a “ler o mundo” e “ser no mundo” para "transformar e retransformar o mundo", podendo, assim, exercer uma consciência crítica sobre o processo de aprender uma nova língua e as relações que dele emergem sem perder a própria identidade cultural.
Um abraço e aguardo comentários,
Denise
Referências Bibligráficas:
FREITAS, A. C. de. Aprendizagem consciente = aprendizagem eficiente? In: Letras & Letras. Uberlândia, 14(1), jul./dez., 1998, p. 59-72.
FREIRE, P. Impossível existir sem sonhos. In: FREIRE, A. M. A. (Org.) Pedagogia dos sonhos possíveis. São Paulo: UNESP, 2001, p. 35-54.
LARSEN-FREEMAN, D. Expanding roles of learners and teachers in learner-centered instruction. In: RENANDYA, W. A. & JACOBS, G. M. Learners and Language Learning. Singapore: Seameo Regional Language Centre, 1998.
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